Cold Fire (Rush)
Cold Fire integra Counterparts (1993), décimo quinto álbum de estúdio do trio canadense Rush.
Antes de iniciarmos a análise das partes tocadas por Neil Peart (pronuncia-se Peert), vale dizer que optamos por diferenciar as partes em A1 e A2 já que as mesmas são parecidas, mas não idênticas musicalmente. O mesmo critério foi adotado nas partes B1 e B2, além dos refrãos 1, 2 e 3.
Na introdução, a levada tem prato de condução (em colcheias), bumbos na cabeça do tempo 1 e nos contratempos dos tempos 2, 3 e 4, e um tom tom grave na cabeça do tempo 4. Nos interlúdios e coda (encerramento da música), que são musicalmente similares à introdução, (repare que o riff de guitarra está em todas estas seções), o músico encontra diferentes maneiras de tocar seções parecidas entre si.
No primeiro interlúdio (compassos 40 a 43), Neil Peart optou por não fazer nenhuma levada, tocando apenas o chimbal nos tempos 2 e 4. No interlúdio seguinte (compassos 106 a 109) e na coda, encontramos uma levada semelhante à da introdução, porém com frases tocadas nos tons e surdo.
Em A1 e A2, a condução da levada passa para o chimbal (também em colcheias) e no lugar do tom tom grave, passamos a ouvir a caixa 2. Aqui, o bumbo é tocado apenas na cabeça do tempo 1 e no contratempo dos tempos 3 e 4.
Uma pandeirola (ou pad com o timbre do instrumento) é ouvida na condução da levada no início das partes B1 (compassos 26 a 29) e B2 (compassos 56 a 59). Na segunda metade da parte B1, o groove volta a ser igual ao das partes A1 e A2. Na outra metade de B2, temos a troca da caixa 2 para a 1, além da entrada do prato de condução no lugar do chimbal.
As ideias musicais aplicadas nos grooves da partes A e B, reaparecem no solo de guitarra.
O refrão 1 também possui uma levada diferente das partes comentadas anteriormente. Aqui, temos semínimas tocadas na cúpula do prato de condução, tom tom grave tocado nos tempos 2 e 4, e um padrão de bumbo idêntico ao da introdução. Comparando este refrão com os seguintes, percebemos que o baterista diferencia as levadas substituindo o tom tom grave pela caixa 1.
O baterista toca um de seus grooves característicos na parte C, e levada semelhante a essa pode ser ouvida em outras músicas do Rush, como YYZ e The Spirit of Radio. Embora não tenhamos reconhecido notas-fantasma na escuta deste groove, podemos ver através do vídeo ao vivo, logo abaixo, que o músico faz sim uso das mesmas. Para executar esta levada, o músico faz a aplicação de paradiddles (no compasso 65 e 111, temos o groove escrito com as notas-fantasma e uma manulação sugerida).
Assim como em suas levadas, Neil Peart também toca viradas não só pertinentes à música, mas que contribuem para tornar o arranjo ainda mais interessante.
Na introdução, identificamos um fill curto (compasso 9), que voltará a aparecer seguidas vezes no segundo interlúdio (compassos 106 e 108) e na coda (compassos 144, 146, 148, 150, 152, 153, 154, 156). O flam no surdo que encerra a introdução (compasso 11), é repetido na conclusão do refrão 1 (compasso 39) e do refrão 2 (compasso 93).
No compasso 107 (interlúdio), temos uma virada que mais adiante (na coda) será repetida (compasso 145) e desenvolvida (compassos 147, 151 e 158/159).
Ligeiras aberturas de chimbal na levada, também são aplicadas como preparações (compasso 25, 33, 55, 97 e 105).
Nas partes C, percebemos que quando ocorrem, as viradas são tocadas a cada quatro compassos. Ideias musicais aplicadas nos fills do primeiro C, podem ser reconhecidas com algumas variações na reexposição desta seção (compare os compassos 71 e 117, 75 e 121).
Comparando as viradas dos refrãos 2 e 3, também é possível encontrar viradas comuns às duas seções (compassos 83 e 129, 91 e 137). Além disso, assim como em C, também temos viradas a cada quatro compassos predominantemente.
As longas viradas com o uso de toques simples, características do baterista, também fazem parte desta canção (compassos 87, 109, 124/125, 141, 149 e 155).
Analisando o estilo de Neil Peart, concluímos que um dos seus traços mais marcantes é criar linhas de bateria específicas e originais para cada seção, utilizando mudanças de padrões rítmicos e/ou de timbres para gerar contraste entre as mesmas. Na reexposição das seções, o músico frequentemente retoma ideias já apresentadas, tocando variações sobre as mesmas ou repetindo essas ideias.
Aqui vão dois trechos de uma entrevista para a revista Modern Drummer (fev/1994), onde ele mesmo descreve como desenvolve suas ideias: “Quando estou construindo as partes de bateria, eu tenho que ser sensível às canções, é claro. Você nunca vai me ouvir fazendo barulho em uma parte vocal. Há um certo nível de respeito que você tem que ter.” Ele prossegue: “Encontrar a intenção correta para diferentes partes de uma música é sempre um desafio para mim, pois eu odeio repetir coisas. Porém, existem certas levadas de rock que funcionam e precisam ser tocadas e repetidas, e eu não me importo em tocá-las. O mesmo vale para as viradas. Por outro lado, eu quero explorar novas áreas. Eu gosto de misturar influências para tentar trazer algo de novo.”
Versão original de Cold Fire
Versão ao vivo de Cold Fire (Counterparts Tour)
Solo de bateria de Neil Peart no Late Show (2011)