Aprendendo A Jogar (Elis Regina)

Olá! A 19ª transcrição é em homenagem a Picolé, baterista fluminense que possui uma discografia extensa.

Elis Regina 1980

Elis Regina (1980)

A maior parte de suas gravações foi realizada entre o fim dos anos 70 e meados da década de 80. Picolé trabalhou muito com os produtores Lincoln Olivetti e Robson Jorge, que naquele período eram onipresentes na música brasileira.

Portanto, o músico gravou com: Rita Lee (Lança Perfume, Nem Luxo Nem Lixo, Bem-Me-Quer, Chega Mais e Doce Vampiro), Marcos Valle, Moraes Moreira, Rosa Maria, Roberto Carlos, Elba Ramalho, Natan Marques e Ricardo Leão, Fagner, Simone, Djavan, Wando, Ney Matogrosso, Jorge Benjor, Sérgio Dias, Milton Nascimento, entre outros.

Picolé também gravou o último álbum (1980) de estúdio de Elis Regina. Logo depois, participou do show Trem Azul, também da cantora gaúcha.

Desse álbum de 1980 de Elis Regina, transcrevi Aprendendo A Jogar, composição de Guilherme Arantes. Também fiz um vídeo tocando junto com a música.

Como não microfonei a bateria peça por peça e toquei com a versão original da música, não foi possível fazer correções, edições e mixagem. O áudio de Aprendendo A Jogar que você ouve no vídeo é o que estava tocando no PA do meu estúdio.

 

 

Imprima a transcrição, coloque um fone e vamos à análise desta canção.

A transcrição está com a fórmula de compasso 4 por 4 (quatro tempos por compasso, unidade de tempo = semínima).

O andamento anotado no início da partitura é apenas uma sugestão, já que é possível afirmar que a música foi gravada sem o uso de metrônomo.

Aprendendo A Jogar

Transcrição de bateria de Aprendendo A Jogar

Aprendendo A Jogar começa com um groove funkeado de baixo (de Pedro Baldanza) e bateria. Perceba que a banda vai entrando aos poucos.

Embora Picolé praticamente não repita nenhum compasso neste groove, percebemos que o músico toca variações de um mesmo tema, sem mudar a levada drasticamente.

No compasso 16, o baterista faz uma preparação para que Elis Regina entre com a melodia do refrão. Nesta virada, Picolé faz toques duplos e simples (double e single stroke roll). Aliás, estes são os rudimentos mais tocados pelo baterista durante a música. Mais adiante também é possível ouvir a aplicação de um terceiro rudimento, que é o flam.

Ainda sobre os fills, é importante dizer que é muito difícil precisar o número de toms e surdos do kit usado nesta gravação. De qualquer forma, para fazer esta transcrição, considerei uma bateria com três toms e um surdo.

A forma da música é sempre refrão – refrão – verso.

O mesmo groove da introdução é mantido durante o refrão. No fim desta parte, ouvimos que a toda a banda toca um ritmo idêntico (convenção).

O refrão seguinte é concluído com uma virada na bateria, seguida de outra convenção, onde Picolé usa bumbo e pratos de ataque (compasso 32).

Essas ideias musicais serão repetidas nos refrãos seguintes.

Nos versos (parte A), o baterista toca duas levadas diferentes, acompanhando a mudança de clima dentro da mesma seção.

A primeira pode ser vista no compasso 34 da transcrição. Note que o ritmo do bumbo coincide com o ritmo das mudanças de acordes tocadas no teclado.

A levada seguinte (ver compasso 37), tem bumbos sendo tocados na cabeça dos tempos 1 e 3 e aberturas de chimbal em todos os contratempos. A caixa também é tocada na cabeça dos tempos 2 e 4.

Nos três últimos compassos do verso, Picolé ataca junto com a banda em uns momentos, preenchendo com viradas os espaços deixados pelo arranjo.

Depois de ouvirmos o chorus “refrão – refrão – verso” três vezes, percebemos que a banda retoma o clima apresentado na introdução, porém um pouco mais “pilhada” e com outra levada de baixo. Na transcrição, esta parte pode ser vista a partir do compasso 92.

A seguir a intensidade da banda cresce ainda mais, preparando-nos para o final da música. Aqui o baterista substitui o chimbal pelo prato de condução.

Picolé

Ouvindo a performance de Picolé, concluímos que o baterista toca com bastante energia, firme, e com uma intenção funkeada, sendo bastante responsável por fazer com que a música soe “pra cima”.

Em entrevista à revista Modern Drummer Brasil (mar/2011), o baixista Paulo Cezar Barros (PC), falou sobre Picolé:

“Gravamos todos os dias durante duas décadas. Foi o maior batera com quem gravei, em termos de time (tempo). A onda dele era time e groove. Musicalidade à flor da pele. Impressionante. Nos anos 70 ainda não gravávamos com click (metrônomo), e nós dois éramos colados, bumbo e baixo.”

Embora Picolé tenha feito inúmeras gravações e contribuído tanto com a música brasileira, ele é pouco conhecido, não só pelo público em geral, mas também entre os músicos. Buscar informações sobre ele na internet foi quase em vão.

Então, para finalizar, sugiro que você pesquise sobre a discografia deixada por este grande músico brasileiro.

Bom estudo e até a próxima!

 

Versão original de Aprendendo A Jogar (1980)

 

Elis Regina Carvalho Costa com Picolé na bateria (1980)

 

Elis Regina ao vivo – Especial Grandes Nomes (1981)